Morre Tarcísio Pereira, fundador da Livro 7


Morreu na noite desta segunda-feira (25) Tarcísio Pereira fundador da Livraria Livro 7. 

Tarcísio estava internado há 2 meses no Real Hospital Português, após contrair a Covid-19 e receberia alta esta semana, mas foi surpreendido por uma hemorragia na noite de segunda, que levou ao falecimento. 

A Livro 7

Tudo começou numa salinha de 20 m², na Rua Sete de Setembro, no bairro da Boa Vista. Algum tempo depois, Tarcísio já estava de mudança – na mesma rua – para um casarão enorme, onde a Livro 7 se consolidou em definitivo.

No espaço, montou o que a Revista Manchete, certa vez, chamou de “o primeiro shopping cultural do Brasil”: livraria, loja de discos, loja de artesanato, cervejaria (com 150 mesas), teatro de bolso e loja com plantas de interior. Tudo isso coabitava – distribuído em várias salas – o complexo cultural que se tornou a Livro 7.

“Era uma revolução permanente todos os dias”, diz Tarcísio sobre o espaço, que virou point da galera antenada em cultura. De uma simples livraria – que seria o seu propósito inicial –, o espaço da Livro 7 passou a congregar de um tudo e movimentar a vida cultural da cidade.

Lá aconteciam exposições, performances, peças de teatro (cursos de teatro, na sequência), recitais, torneio de xadrez, exibições de Super 8… Tudo sob a tutela de Tarcísio. E também shows. Passaram por lá Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Robertinho do Recife, Cátia de França, entre outros.

Até mesmo bloco de Carnaval foi criado na Livro 7: a Troça Carnavalesca Independente Nóis Sofre… mas Nóis Goza, que completou, em 2018, 42 anos de criação.

“Era uma época em que as pessoas se reuniam, principalmente nos finais das tardes de sexta, para esperar chegar a nova edição do Pasquim, por exemplo, e lá mesmo ficavam, debatendo sobre política e também sobre arte e cultura de uma forma geral”, lembra Tarcísio.

Junto a tudo isso, Tarcísio também conviveu com o cerco constante da ditadura sobre a Livro 7. De livros tidos como “subversivos” pelos militares até mesmo um simples cartão de Natal, tudo se tornava alvo do monitoramento do regime, o que levava ao recolhimento de livros e Tarcísio a prestar diversos depoimentos à polícia, na época.


Prestígio

Os lançamentos que aconteciam na Livro 7 foram um capítulo à parte. Estiveram lá nomes como Osman Lins, Ariano Suassuna, Gilberto Freyre, Ferreira Gullar, Dias Gomes e até mesmo o norte-americno Sidney Sheldon, em uma das noites de autógrafos antológicas da livraria. O autor vendeu, somente naquela noite, 940 livros e autografou mais umas várias dezenas de outros.

Esse prestígio ultrapassou fronteiras, levando Tarcísio a receber, pela Academia Brasileira de Letras, o Mérito Cultural pela Divulgação da Literatura, no começos dos anos 1990; a participar, com um stand da livraria, na Feira do Livro de Frankfurt; a Livro 7 passar a figurar no Guinness Book – o Livro dos Recordes – como a maior livraria do Brasil, em número de títulos (60 mil) e extensão de prateleiras.

Além disso, ele também foi presidente do Conselho Editorial da Companhia Editora de Pernambuco – CEPE e apresentou o web programa Tarcísio Pereira Convoca, disponível em seu canal no Youtube, em que conversou com nomes ligados à literatura e às artes – já passaram por lá Raimundo Carreiro, Lailson de Holanda e José Paulo Cavalcanti Filho.

Funeral

A família ainda não divulgou detalhes sobre o velório e sepultamento.

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