Tu lembra da Soparia e do Polo Pina, nos anos 90?



Todo mundo que viveu no Recife na década de 1990, se não frequentou, pelo menos ouviu muito falar da Soparia, bar que movimentou o Pina por sete anos. Inaugurado em dezembro de 1991, o local foi palco de apresentações tanto de bandas promissoras na época — como as do Movimento Manguebeat —, quanto de atrações já consagradas, como o violonista Noite Ilustrada e o grupo Os Paralamas do Sucesso.

O bar na Av. Herculano Bandeira, que havia sido concebido para ser uma opção para tomar sopa na madrugada, acabou se tornando rapidamente o lugar da efervescência cultural da cidade e assim ficou até meados de 1999, quando seu idealizador, Roger de Renor, decidiu parar as atividades.

“Eu sempre digo que decidi abrir a Soparia em causa própria”, revela Roger. “Eu sempre reuni muitos amigos nas festas em minha casa, em Boa Viagem, aí resolvi sair do trabalho que eu tinha numa gravadora pra abrir um lugar onde eu pudesse receber meus amigos na madrugada, depois das festas”, conta.

“Foi aí que eu encontrei uma forma de viver sem ter de trabalhar, porque eu me divertia no trabalho”, lembra antes de enumerar as atrações que já passaram pelo palco da Soparia. “Com pouco tempo, a galera começou a pedir pra tocar lá de graça, aí eu comecei a colocar o som e cobrar couvert. O cliente que não quisesse pagar ficava em pé”, conta.

“Aí era Mestre Ambrósio, Cascabulho, Valmir Chagas, Maracatu Nação Pernambuco. Cara, Os Paralamas do Sucesso saíram de um show no Abril Pro Rock e ficaram lá no bar, tocaram sem cobrar nada”, recorda.


O salão da Soparia foi, de fato, um local para a difusão de muitas atrações da cena musical do Recife, mas seu idealizador afasta a responsabilidade pela efervescência cultural daquele momento. “Foi tudo coincidência. Eu abri a Soparia justamente no momento em que a cidade passava por aquela transformação. Eu acredito que a Soparia foi útil naquele processo, mas não a responsável”, analisa.

“Enquanto surgiam aquelas bandas, as festas e o Abril Pro Rock, a Soparia era um lugar onde aqueles atores se encontravam. Se não fosse na Soparia, seria em outro lugar. Meu trabalho era botar o som do momento para tocar. Eu pegava aquelas radiolas de ficha e tirava uns discos para colocar os da galera daqui”, continua.

Como forma de divulgar as bandas que ainda não tinham espaço no cenário, Roger promovia o festival Abrindo o Gás, que acontecia às vésperas do Abril Pro Rock. “Era massa, porque tinha banda que chegava dois dias antes do Abril e ia pra Soparia pra ver o que tinha de novo. Eu brincava que aquelas eram as bandas que estariam na próxima edição do Abril”, comenta.

Hora de parar

Em 1999, o sucesso da Soparia repercutia pela região do hoje Polo Pina, que já via o nascimento de outros bares. “As pessoas passaram a entender que aquilo era um polo e começaram a colocar bar na vizinhança, mas não era. A movimentação era por causa da Soparia. Aí foi ganhando o formato que é hoje, com aquele portal na entrada e cada estabelecimento que faça o seu sem pensar em nada conjunto. Por isso que eu fechei, porque entendi que não cabia mais”, explica Roger.

Em 25 de março de 1999, uma festa com show de Cordel do Fogo Encantando foi marcada para festejar o encerramento da Soparia. Frequentador do local, o jornalista e crítico de cinema Luiz Joaquim registrou a noite, que pode ser conferida no vídeo abaixo:
 

Hoje, o prédio onde se instalava a Soparia não existe mais. Foi desapropriado e faz parte de um terreno sem atividade. Já Roger, por sua vez, lembra da época com o devido orgulho. “O lucro que eu tive foi o reconhecimento que as pessoas têm por causa da Soparia. Não fiquei rico, porque a Soparia era minha diversão e permitia a minha sobrevivência. Eu posso dizer que vivi naquela época – e vivo hoje – sem trabalhar, porque eu não encarava a Soparia como um trabalho. Eu sobrevivia me divertindo”, encerra.

Por Geraldo Lélis, publicado no PorAí

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