Morre Rita Lee, a rainha do rock brasileiro

Rita Lee, uma das maiores cantoras e compositoras da história da música brasileira, morreu nesta segunda-feira (8), aos 75 anos. Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e vinha fazendo tratamentos contra a doença.

A família da cantora divulgou um comunicado nas redes sociais dela: "Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, em São Paulo, capital, no final da noite de ontem, cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou". O velório será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, na quarta-feira (10), das 10h às 17h.

Biografia

Rita Lee Jones de Carvalho nasceu em São Paulo, capital,  no dia 31 de Dezembro de 1947, sob o signo de Capricórnio, ascendente em Aquário e lua em Virgem. Filha caçula de Charles Fenley Jones e Romilda Padula Jones teve duas irmãs: Mary Lee e Virginia Lee. Era casada com o músico e compositor Roberto de Carvalho desde 1976 e tiveram três filhos: Beto, João e Antônio.

Apesar de sonhar ser médica veterinária ou atriz de cinema, Rita desde pequena tinha paixão pela música e chegou a ter aulas de piano com a famosa concertista Madalena Tagliaferro. Mais tarde, já na escola, formou um grupo só de garotas chamado Teenage Singers (1963). Em 1964 participou do Tulio Trio, depois do grupo Six Sided Rockers, que no ano seguinte mudou o nome para O'Seis e lançou um compacto com as músicas Suicida e Apocalipse. No final de 1965, com a saída de alguns integrantes e entrada de outros, o grupo mudou o nome para O Konjunto. Quando a formação da banda se reduziu a apenas um trio surgiram Os Bruxos que logo a seguir foram rebatizados de Os Mutantes, grupo do qual Rita fez parte de 1966 a 1972. 

Os Mutantes fizeram sua primeira apresentação no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, em 1967, acompanhando Gilberto Gil na música Domingo no Parque. Fizeram parte do núcleo de fundadores do Tropicalismo, juntamente com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Rogério Duprat e outros artistas de peso. Junto com os Mutantes, Rita marcou presença e imagem fortíssimas nos famosos festivais de música da época, onde seu talento, sua beleza e carisma sempre foram centro das atenções. Gravaram juntos 6 discos, entre eles o recém-lançado Technicolor. A última apresentação de Rita com Os Mutantes aconteceu no VII FIC, em 1972 no Rio de Janeiro.

Paralelamente aos Mutantes, Rita lançou em 1970 e 1972, dois álbuns solos: Build Up que traz o seu primeiro grande sucesso José, além de Sucesso Aqui Vou Eu (uma psicografia dos tempos que ainda estavam por vir?) e Hoje é o Primeiro Dia do Resto de Sua Vida.

Em 1973, Rita e a cantora Lúcia Turnbull formaram a dupla acústica Cilibrinas do Éden e participaram da Phono 73 em São Paulo. As Cilibrinas não seguiram adiante, pois os ventos das mudanças ainda não haviam parado de soprar.

Ainda em 1973, Rita montou a banda Tutti Frutti e iniciou um trabalho de fortíssima identidade pessoal, gravando discos como Fruto Proibido, considerado por muitos como o melhor disco de rock nacional de todos os tempos. Realizou, também, as primeiras turnês para grandes públicos, percorrendo todo o Brasil com enorme aparato de produção, som, luz e cenografia. 

Nasceu, então, a Rita Superstar, a maior estrela do rock nacional e única a atingir tal magnitude. Performer inigualável e compositora de gênio, Rita lapidou um verdadeiro maná de preciosidades, entre eles o sempre atual hino dos adolescentes Ovelha Negra. Fizeram parte desta fase canções como Mamãe Natureza, Menino Bonito, Esse Tal de Roquenrou, Coisas da Vida, Jardins da Babilônia, Miss Brasil 2000, Agora Só Falta Você, Eu e Meu Gato, Dançar Para Não Dançar e Com a Boca no Mundo.

Junto com o Tutti Frutti Rita gravou 4 discos, o último deles Babilônia, em 1978. Antes disso porém, eis que em outubro e novembro de 1977, Rita caiu na estrada com o show Refestança (mais tarde transformado em disco ao vivo), em que dividiu as honras da festa com seu amigo, mestre e compadre Gilberto Gil.

Em 1976, Rita conheceu e se apaixonou pela pessoa e pela música de Roberto de Carvalho, guitarrista/pianista carioca que na época atuava na banda de Ney Matogrosso. Iniciou-se neste momento um romance que iria se transformar num verdadeiro manancial de criatividade, uma parceria que renderia algumas das obras mais importantes da música brasileira. 

Em agosto de 1976, aos 3 meses de gravidez, Rita foi presa em sua própria casa, sob acusação de porte de drogas, num dos fatos de truculência explícita mais revoltantes da ditadura que vinha dominando o Brasil desde 1964. 

Passou um mês entre o DEIC e o Presídio do Hipódromo e depois foi condenada a regime de prisão domiciliar por um ano. O fato se transformou em escândalo nacional. Mas, se a intenção era forjar uma imagem negativa de Rita, o tiro saiu pela culatra. Nessa época ela lançou, em compacto, o mega hit Arrombou a Festa, em parceria com Paulo Coelho. Uma sátira bem-humorada e contundente do panorama da Música Popular Brasileira de então, que se transformou em estrondoso e polêmico sucesso.

A gravidez e os tempos difíceis serviram também para consolidar a relação do casal Rita e Roberto. Coube também a Roberto estruturar o caos administrativo em que se transformou a carreira de Rita após a prisão. Nessa época entre outras pérolas, os Lee/Carvalho compuseram, em parceria com Nelson Motta, o super hit Perigosa, gravada pelas Frenéticas. Em 1977 Roberto passou a fazer parte do Tutti Frutti e neste mesmo ano, no mês de março, nasceu o primeiro filho do casal, Beto Lee.

A partir de 1979, Rita e Roberto começaram a fazer discos e shows juntos - no formato dupla dinâmica - e inauguraram uma fase superpop, de enorme empatia popular. Desenvolveram um estilo único, que se manifestou num total de quinze álbuns e extrapola as fronteiras de nosso país. Rolaram mega espetáculos, diversos especiais para a TV Globo num sucesso maciço de vendas e execução em rádio. O primeiro trabalho em disco da dupla Lee/Carvalho foi o álbum Mania Você e o sucesso chegou para ficar em canções (além desse mega hit que deu nome ao disco) como Doce Vampiro, Chega Mais, Papai Me Empresta o Carro e Corre-Corre entre outras tantas.

O disco seguinte, Lança Perfume, de 1980, foi histórico. Do repertório fizeramm parte canções como (além da própria Lança Perfume), Baila Comigo, Nem Luxo Nem Lixo, Orra Meu, Shangrilá e Bem-me-quer. Lança Perfume estacionou por 2 meses nas paradas de sucesso da França, chegou em sétimo lugar da parada da Billboard e foi lançado com grande êxito em vários países da Europa e América Latina. No Brasil, Rita se transformou em mania nacional.

Em 1981 gravaram o álbum Saúde, e o sucesso continuou em músicas como a titular Saúde, Atlântida, Banho de Espuma, e Mutante. Seguiram-se através dos anos hits como Flagra, Cor de Rosa Choque ,Só de Você, On the Rocks, Desculpe o Auê, Vírus do Amor, Bwana, Pega Rapaz, Perto do Fogo, Livre Outra Vez, Caso Sério, Barata Tonta, etc...etc...etc...

Em 91, Rita e Roberto decidiram interromper a parceria musical por um tempo. Rita inventou o formato precursor do hoje tão badalado Acústico com o show Bossa'n'roll, de forma ousada e despojada, sucesso em todo o Brasil e depois transformado em disco de enorme sucesso. Nele Rita fazia uma releitura de vários sucessos de sua carreira em formato banquinho e violão, junto com canções inusitadas do repertório de outros artistas. Show de empatia, show de bola.

Em 93, Rita lançou o CD Rita Lee dando uma guinada em direção a um roquenrou mais purista, onde pontificava a genial Todas as Mulheres do Mundo.

No início de 95 Rita foi convidada para fazer o show de abertura da turnê brasileira dos Rolling Stones. Convocou Roberto de Carvalho para reger a banda e realizaram mega espetáculos nos estádios do Pacaembu em São Paulo e no Maracanã no Rio, ocasião em que germinou o que viria ser o show A Marca da Zorra. Realizaram turnês pelo Brasil e o show virou um CD ao vivo, ganhando vários prêmios da crítica e êxito total de público. Roquenrou purista e em altíssima decanagem.

No final de 1996, Rita e Roberto se casaram oficialmente depois de 20 anos de vida em comum. Também neste ano Rita se tornou a primeira mulher a receber o Prêmio Shell pelo conjunto de obra, e no ano seguinte, a artista foi a homenageada do Prêmio Sharp junto com a diva do teatro Fernanda Montenegro.

Em 1997 Rita assinou contrato com a gravadora Polygram, atual Universal, e lançou o CD Santa Rita de Sampa, a parceria musical com Roberto plenamente retomada.

Em 1998 gravaram o platinado Acústico MTV, onde além de nova releitura de seus maiores sucessos, contava também com convidados estreladíssimos como Milton Nascimento, Titãs, Paula Toller e Cássia Eller. Fez uma grande turnê por todo o Brasil e alguns países da Europa. A turnê do Acústico se estendeu até o fim de 1999. 

Em 2000, de volta ao bom e velho rock'and'roll, Rita lançou 3001, uma máquina do tempo musical produzido por Roberto de Carvalho, que em novembro de 2001 foi contemplado com o Grammy Latino na categoria melhor disco de rock.

Em 2001, Rita assinou contrato com a gravadora Abril Music e, por sugestão de Marcos Maynard (presidente da Abril) gravou um álbum com releituras de clássicos dos Beatles. 

Em outubro de 2003, Rita Lee lançou 'Balacobaco'. O disco, produzido por Roberto de Carvalho, foi composto por 11 faixas inéditas foi descrito pela crítica como o melhor disco de Rita Lee nos últimos 10 anos e transformou-se imediatamente em mais um sucesso na carreira da cantora.

Em pouco mais de um mês de lançamento, Balacobaco foi disco de Ouro. A turnê do disco 'Balacobaco' estreou em janeiro de 2004 com grande sucesso de público e crítica, lotando o Canecão (RJ) por várias noites, seguindo depois para várias cidades brasileiras, além de cidades como Lima (Peru), Assunción (Paraguai), Cidade do Porto e Lisboa (Portugal), Nova Iorque e Boston.

Em agosto de 2004 aconteceu em São Paulo a gravação do 'MTV AO VIVO RITA LEE', seu 32o disco. Lançado em CD e DVD pela EMI Music entre o final de novembro e o início de dezembro, em menos de um mês, Rita Lee recebeu Disco de Ouro por esse novo trabalho. 

Outras atividades

Em 1986, Rita estreou  seu programa radiofônico Radioamador pela Radio 89 FM de São Paulo e Rádio Cidade do Rio. Ficou no ar por nove meses e foi o pioneiro do humor moderno que hoje existe em grande escala por todas as rádios do Brasil.

Ainda em 1986, Rita iniciou carreira como escritora de literatura infantil na Bienal Internacional do Livro, lançando o livro Dr. Alex. Lançou mais três livros com o mesmo ratinho Alex como personagem principal de aventuras sempre voltadas às crianças e com temática ecológica. Foram eles: Dr. Alex e os Reis de Angra, Dr. Alex na Amazônia e Dr. Alex e o Oráculo de Quartz.

No cinema, Rita e Roberto fizeram uma participação no premiado filme cult Fogo e Paixão, com direção de Isay Weinfeld e Márcio Kogan, em 1988.

Em 1989, Rita participou do filme Dias Melhores Virão, dirigido por Cacá Diegues, e junto com Roberto compõe a trilha musical e participa do Festival de Cinema de Berlim.

Também em 1989 Rita gravou, com grande orquestra, o famoso conto infantil Pedro e o Lobo, de Prokofiev. Era foi narradora.

Em 1992, Rita fez o papel de Raul Seixas no curta-metragem Tanta Estrela Por Aí, com direção de Tadeu Knudsen, numa performance surpreendente tendo recebido por ela o prêmio de melhor ator no Festival de Cinema em Gramado.

Também fez participações nas telenovelas Top Model (1990) e Vamp (1991) da TV Globo.

Ainda em 1991 Rita estreou na TV seu programa TVLeezão, na recém inaugurada MTV, num total de 15 capítulos. Um dos programas mais criativos de todos os tempos na televisão brasileira, o TVLeezão era uma verdadeira salada mágica, misturando textos (de autoria de Antonio Bivar que já havia dividido com ela o Radioamador), entrevistas, e Rita exibindo uma performance de histrionismo a todo vapor, compondo diversos personagens e dando um show de desempenho. É inumerável a quantidade de programas de televisão que utilizaram e ainda utilizam até hoje TVLeezão como fonte de inspiração não creditada, digamos assim.

Em 2001 Rita voltou a fazer uma das coisas que mais gosta: pontas no cinema. À convite da diretora Ana Muylaert, Rita gravu uma personagem estranha no premiado filme Durval Discos.

Como jornalista Rita escreveu entre 99 e 2002 uma coluna na revista Leros, publicada mensalmente na Inglaterra. Entre 2001 e 2003 foi colunista da Revista da MTV.

Em janeiro de 2002, estreou a turnê do show Yê Yê Yê de Bamba, baseada no disco Aqui, Ali, em Qualquer Lugar. A turnê percorreu todo o Brasil e alguns países da América Latina com grande sucesso.

Entre 2002 e 2004, Rita apresentou o programa Saia Justa (GNT) - líder de audiência do canal - ao lado de Fernanda Young, Marisa Orth e Mônica Waldvoguel.

Em 2003, Rita Lee lançou Balacobaco, que emplacou nas rádios a música Amor e sexo, um dos maiores sucessos do ano. A turnê de lançamento do show estreou no Rio (com direito a lotações esgotadas e diversas apresentações extra) e correu todo o país. O show foi registrado em DVD e CD lançados no ano seguinte dentro da série MTV ao vivo. O show, gravado em São Paulo, teve participações de Pitty e Zélia Duncan.

O programa Madame Lee marcou a volta de Rita a TV em 2005. Misturando bate papo descontraído com humor e música, o programa foi exibido pelo canal GNT. O formato fugia dos talk-shows convencionais, com Rita e Roberto recebendo os convidados em um consultório.

Rita voltou à estrada em 2006. Entre maio e janeiro de 2007 gravou três shows que, junto a diversas entrevistas, foram lançados no box Biograffiti. Dirigidos por Roberto de Oliveira, os três DVDs fazem um perfil e contam a vida de Rita. Em maio Rita Lee recebeu o título de Cidadã Carioca em uma cerimônia na Câmara Municipal de Vereadores.

No início de 2008 Rita Lee estreou sua nova turnê, Pic-Nic. O show faz um apanhado dos 40 anos de carreira e celebra os 60 anos de Rita.

Em maio de 2010, Rita Lee foi convidada pelo diretor global Jorge Fernando para regravar seu sucesso de 1985, TiTiTi. A música foi usada na abertura do remake da novela Ti Ti Ti no horário das 19 horas. Rita Lee fez uma participação no último capítulo da novela, fazendo um show, cantando a música de abertura da novela.

Em 2017, participou do documentário Laerte-se, da Netflix.

Saúde

Em maio de 2021, ao realizar um exame de saúde de rotina, foi diagnosticada com um tumor primário no pulmão esquerdo, aos 73 anos de idade. 

Em abril de 2022, os exames recentes feitos pela artista já não detectaram mais a presença do tumor em seu organismo.

Nos últimos anos, ela viveu em um sítio no interior de São Paulo com a família.

Ela deixa três filhos: Roberto, João e Antônio.

Postar um comentário

0 Comentários