Pernambuco perde o empresário Moisés Margolis, da antiga Ótica Clock's

Morreu, na tarde deste domingo (19), o empresário Moisés Margolis. Ele estava internado há alguns dias no Hospital Esperança, na Ilha do Leite, Região Central do Recife.

Margolis marcou gerações no Estado à frente de empreendimentos como Óticas Clock's, os motéis Sunshine e Seicheles, entre outros.

Moisés era pai de Ernesto, falecido no último dia 6, e de Evânia Margolis. A família Margolis é de origem judaica.

Moisés Margolis tinha 90 anos.

A causa da morte não foi divulgada.

Trajetória

Moisés Margolis nasceu em 4 de dezembro de 1931, filho dos imigrantes lituanos Abel e Berta, que chegaram a Pernambuco no final da década de 20, no século passado, e se instalaram na cidade de Barreiros para trabalhar na agricultura. Pouco tempo depois, já no Recife, Abel começou a vender tecidos até comprar um açougue, que prosperou e passou a vender a outros açougues. Moisés, o segundo dos três filhos homens de Berta, desde cedo mostrou disciplina para os estudos e formou-se ao mesmo tempo em engenharia civil e elétrica, concluindo logo depois engenharia mecânica. Na faculdade foi colega de turma de nomes como Sebastião Barreto Campelo e Armando Cairutas. 

Por exigência do pai, que queria os filhos com dedicação máxima aos estudos, o jovem Moisés começou a trabalhar apenas no quinto ano de faculdade, na Rede Ferroviária Federal (Refesa), onde permaneceu por 13 anos até ser demitido por perseguição política na revolução de 1964. A ironia é que o jovem engenheiro não tinha histórico de militância, porém mantinha estreita amizade com o superintendente da Refesa na época, Almir Braga, nomeado pelo presidente Jango e de quem havia sido colega de turma.

Engenheiro com visão multidisciplinar, Moisés decidiu montar uma fábrica de elevadores, a quem emprestou o sobrenome. O empreendimento sobreviveu alguns anos, mas não resistiu à inflação galopante que assolava o país na época, final da década de 60. Foi aí que o varejo entrou na sua vida: seu cunhado, Samuel Lispector (irmão de Póla, primeira esposa, que viria a falecer), sofreu um acidente e precisou viajar para tratar-se. Margolis foi trabalhar na Aliada Jóias para ajudá-lo e virou sócio. Em 1972, a sociedade foi desfeita e ele decidiu ser atacadista de joias e relógios, passando a representar marcas como Citizen, Mondaine e Casio.

Em 1977, Moisés decidiu voltar ao varejo e comprou o prédio onde até hoje funciona a Clock’s da Rua da Imperatriz, lançando a marca. Na mesma época, um cliente pagou uma dívida cedendo um posto de gasolina que funcionava em Cruz de Rebouças, na cidade de Igarassu, chamado João XXIII. Moisés mudou o nome para Posto Cassino e resolveu instalar lá um pequeno motel de quatro apartamentos.


Simultaneamente acolheu duas máquinas de fliperama cedidas por uma pequena firma recifense em troca de uma participação nas vendas das fichas. A experiência com o Posto Cassino seria o embrião para os investimentos futuros de Moisés Margolis no Motel Sunshine e no Game Station, iniciativas entregues ao comando do filho Ernesto, que levou os empreendimentos ao patamar em que se encontram atualmente.

Em 1981, Moisés decidiu montar várias lojas no recém-lançado Shopping Recife. Uma para vender joias e relógios, outra para comercializar óculos e a terceira com objetos de design (em sociedade com uma amiga arquiteta, já falecida). Na época, Margolis foi o primeiro empresário por aqui a olhar o negócio de joias e relógios sob uma perspectiva de venda em escala, já que esses segmentos são até hoje dominados por sacoleiros. De lá para cá a marca Clock’s cresceu e chegou a abrigar 15 lojas espalhadas pela região. Há 20 anos, sua filha Evânia começou a atuar no grupo e assumiu o posto de braço direito do pai.

Ao ser vendida este ano para o grupo holandês Hal, que faturou em 2008 no Brasil R$ 160 milhões com as marcas Fototica e Fábrica de Óculos, a Clock’s possuía 10 lojas, 160 funcionários e 70% do movimento concentrado no mercado ótico. Pelo acordo, a família Margolis permanece na empresa até fevereiro de 2010 e está impedida de atuar no segmento ótico por cinco anos.

"Pretendemos entrar no ramo de joias e relógios, que não é foco do grupo Hal no Brasil. Estamos negociando o licenciamento da marca Clock's quando todas as lojas virarem Fototica. Mas, se a proposta não for boa, vamos criar outra. O desafio é criar uma marca tão boa quanto a Clock's", disse, à época, Moisés Margolis, já olhando para o futuro.

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