Morreu, neste domingo (19), aos 92 anos, o apresentador e jornalista esportivo João Batista Bellinaso Neto (Léo Batista). Ele estava internado desde o último dia 06 de janeiro na UTI do Hospital Rios D'or, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, com o diagnóstico de Câncer de Pâncreas.
Sua última aparição pública, foi em outubro do ano passado, durante o velório do amigo Cid Moreira. O jornalista estava bastante emocionado, e optou por não falar com a imprensa, acompanhando todo o trajeto do caixão pelo Palácio Guanabara, na Zona Sul da capital fluminense.
Trajetória
Filho dos imigrantes italianos Antonio Bellinazzo e Maria Rivaben, o pequeno João Batista nasceu no interior de São Paulo no então distrito de Cordeiro do município de Limeira.
O pseudônimo "Léo" veio do nome de sua irmã, Leonilda - "ela que tem horror ao seu nome, Leonilda, e que a gente só chama de Nilda. Peguei o “Leo” dela, deixei de lado o João Batista Bellinaso Neto, e virei Léo Batista" - afirmou, Leo, em uma entrevista a uma determinada emissora de TV.
Léo começou a trabalhar na adolescência no serviço de alto-falantes da localidade natal. Em 1947, estreou ao microfone a convite de um primo, Antonio Beraldo, conhecido como Toninho, que inaugurou em Cordeirópolis um serviço de alto-falantes, algo muito comum nas cidades pequenas. O estúdio ficava numa praça perto do prédio da pensão onde o pai mantinha seu próprio negócio. Léo foi o último a fazer o teste. Leu um anúncio, apresentou uma música e, quando viu, estava transmitindo as notícias. O primo gostou e disse que seria seu o posto de locutor. Léo considerou que ele estava maluco só em cogitar apresentar essa ideia ao pai, um italiano "queixo-duro", que já estava contrariado por haver deixado a escola para ser garçom.
A reação do pai, Antonio Francesco Belinaso, era a que se esperava. Principalmente porque naquela época radialistas, atores, músicos, eram todos malvistos em razão do senso comum de que levavam uma vida boêmia. A sociedade tinha deles o pior conceito possível. Todavia, Beraldo disse ao tio as palavras mágicas: “Seu Antônio, ele vai trabalhar, mas não é de graça. Vou dar 200 mil réis só para começar. E, se ele conseguir algum anúncio, ainda ganha uma comissão.” Sem dinheiro, o pai na hora mudou o discurso: “Ah, ele vai ganhar um dinheirinho? Aí está bem, mas tem que ser depois do horário do trabalho na pensão.”
Carreira no Rádio
Uns seis meses depois da experiência com o primo Beraldo, Léo recebeu convite do senhor Domingos Lote Neto. Ele gostou de sua voz e insistiu em levá-lo para fazer um teste na recém-inaugurada Rádio Clube de Birigui, “a pérola do Noroeste” e assim o fez. Léo foi contratado. Lá, transmitiu partidas de futebol, a parada de 7 de Setembro e programas de auditório como o “Clube da Alegria”, em que teve o privilégio de apresentar Hebe Camargo na festa do primeiro aniversário da emissora.
Em Piracicaba, trabalhou na Rádio Difusora de Piracicaba. Na época, o XV de Novembro, time local, tinha subido para a primeira divisão do Paulistão e buscava um locutor esportivo. Léo passou a acompanhar e narrar os jogos do antigo campo da Rua Regente (ainda não existia o estádio Barão da Serra Negra). Depois, o Pacaembu, a Vila Belmiro... o próprio Léo revelou em suas entrevistas: "Eu era atrevido. Vim até para o Rio, transmitir a Copa de 50".
Em 1952, Léo foi para o Rio de Janeiro concorrer a uma vaga na Rádio Clube do Brasil, mas em vez disso, foi contratado pela Rádio Globo, para trabalhar como locutor e redator de notícias no programa "O Globo no Ar?", comandado por Raul Brunini.
Sua estreia como locutor esportivo aconteceu em uma partida entre São Cristóvão e Bonsucesso, no Maracanã. A partir da edição de 1950, Léo participou de todas as Copas. Ao vivo ou na retaguarda, atuou também em Olimpíadas, Jogos Pan-Americanos... "Não perdi mais nada" - afirmou Léo.
Ele foi um dos que transmitiram o primeiro jogo da carreira de Mané Garrincha, em 1953. Pela Rádio Globo, Léo Batista entrou para a história em 1954, sendo o primeiro radialista a noticiar o suicídio de Getúlio Vargas.
Carreira na TV
Léo sempre gostou do veículo. Em 1955 trocou de emprego e se mudou para a hoje extinta TV Rio, onde comandaria por 13 anos o Telejornal Pirelli, um dos noticiários de maior sucesso na televisão.
Chegou à Globo em 1970 e logo se destacou devido ao seu estilo descontraído. Em 1970, como freelancer, foi chamado para compor a equipe esportiva da TV Globo, que mandara seus principais nomes para o México, na cobertura da Copa do Mundo.
Logo após a Copa, o locutor teve que substituir o apresentador Cid Moreira em uma edição do Jornal Nacional. Ele respondeu bem e foi contratado em definitivo, chegando a apresentar as edições de sábado do JN.
Léo Batista era o apresentador mais antigo em atividade na Globo e foi um dos criadores, em 1978, do programa Globo Esporte. Na emissora, Léo inaugurou o Jornal Hoje, em 1971, ao lado de Luís Jatobá e Márcia Mendes, participou do Globo Rural, narrou os gols da rodada no Fantástico, e teve microfone cativo no Globo Esporte e no Esporte Espetacular.
Nas décadas de 1980 e 1990 chegou a apresentar um bloco esportivo no Jornal Nacional, aos sábados. Seu rosto podia ser visto nas edições de sábado do Globo Esporte e sua voz as quartas feiras, nos intervalos dos jogos brasileiros.

Também narrou as aventuras dos Heróis Marvel, nos anos 80, quando a TV Globo transmitia os desenhos animados.
Com a morte de Cid Moreira, passou a ser o funcionário mais antigo da emissora. Comandou quadros esportivos, além de apresentar algumas edições do programa Globo Esporte.
Léo foi um dos jornalistas que transmitiram a primeira partida oficial de Garrincha no futebol.
Era torcedor do Botafogo, clube do qual recebeu uma homenagem em 21 de julho de 2019. Na ocasião, antes de a bola rolar para Botafogo x Santos, no Estádio Nilton Santos, o clube carioca batizou uma cabine do estádio com o seu nome.
Vida de Léo Batista virou documentário
Em junho do ano passado, o SporTV lançou "Léo Batista, a Voz Marcante", documentário em quatro episódios que repassa a trajetória de um dos jornalistas esportivo com a carreira mais longeva.
Na obra, o início da carreira aos 15 anos no sistema de alto falantes de Cordeirópolis, cidade onde nasceu no interior de São Paulo, até a chegada a televisão. Há também as coberturas marcantes, como o primeiro locutor que noticiou a morte do presidente Getúlio Vargas, em 1954.
William Bonner, Galvão Bueno, Pedro Bial, Boni, Leilane Neubarth, Luís Roberto, Tadeu Schmidt, Alex Escobar e companhia apresentam testemunhos de diferentes épocas. E há também uma preocupação em mostrar o lado pessoal de um âncora e repórter que sempre esbanjou simpatia, da bancada do Jornal Nacional aos 40 anos que cobriu o Carnaval do Rio de Janeiro no rádio e na TV. Assim como em uma cabine do Nilton Santos, estádio do Botafogo, clube de seu coração.
Vida pessoal
Léo foi casado com Dona Leyla Chavantes Belinaso, que faleceu aos 84 anos, em janeiro de 2022.
Despedida
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