Sem itens básicos, Hospital Veterinário da UFRPE está fechado

Residentes do Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) denunciaram que estão sem conseguir atender os animais doentes por falta de medicamentos, materiais e equipamentos de raios-X. À reportagem. estudantes disseram que, muitas vezes, pedem aos tutores para comprar itens básicos como seringas, álcool 70%, lâmina de bisturi, fios e luvas cirúrgicas.

Unidade de referência localizada no bairro de Dois Irmãos, na Zona Norte do Recife, o hospital público conta com 32 residentes em setores como clínica, cirurgia e diagnóstico. Procurada, a UFRPE disse que a falta de insumos básicos é "pontual" e que existe um processo de licitação para a aquisição de mais de 240 itens variados (confira resposta abaixo).

Além dos insumos básicos, os veterinários disseram que também costumam pedir para os tutores comprarem medicamentos que estão em falta na farmácia da unidade. O problema, segundo os estudantes de pós-graduação, perdura há mais de seis meses.

"A gente pede [medicamentos] como doação para o hospital, com os fornecedores que fazem essa venda e entregam, não ao tutor, mas à gente. [...] O tutor faz o pedido ao fornecedor, que entrega à gente porque o tutor não tem acesso a medicações controladas", afirmou o residente.

Alegando condições precárias de trabalho, os veterinários deflagraram greve e decidiram suspender novos atendimentos desde ontem (13).

Sem Raio X

Outro problema relatado pelos veterinários é o atraso na reforma do centro de diagnóstico por imagem da instituição. De acordo com outra residente, que também pediu para não ser identificada, o local está interditado há quase um ano, mas as obras não avançam, o que impede a equipe de utilizar alguns equipamentos, como o único aparelho de raio-X que o hospital tem hoje.

Segundo a estudante, a unidade tinha um segundo aparelho para fazer esse tipo de exame, mas o equipamento explodiu em maio de 2023.

"A sorte foi que todo mundo tinha saído para almoçar e, quando voltamos, estava aquele fumaceiro e explodiu mesmo. Explodiram três fusíveis. Lá sempre tem variações de energia. Provavelmente, houve uma queda de energia, e, quando voltou, a tensão foi muito alta a aí explodiu", declarou a residente.

A veterinária contou, ainda, que a reforma no centro de imagem tem como objetivo readequar o espaço para a instalação de um tomógrafo que o hospital recebeu como doação no início de 2024.

"Essa obra parou tudo, e a gente não consegue mais fazer o que fazia antes lá, que era ultrassom e raio-X. O tomógrafo, a gente sabe que demanda mais tempo para ele funcionar. A gente não está pedindo o tomógrafo. A gente está pedindo condições, porque hoje o setor de diagnóstico por imagem está numa sala improvisada. A gente não tem nem pia para lavar as mãos, não tem como acomodar todo mundo", disse.

Outra residente, que também não quis ser identificada, relatou que a maioria dos cuidadores dos pets atendidos no hospital vive em situação de vulnerabilidade social e não tem condições de pagar por um serviço em unidades particulares.

Ainda segundo essa residente, os estudantes se reuniram com a direção do hospital para resolver o problema, e a gestão da unidade chegou a prometer que disponibilizaria R$ 8 mil para fazer uma compra emergencial dos insumos, mas as aquisições nunca foram feitas. "Não houve uma mobilização firme sobre essa demanda de urgência", comentou.

O que diz a UFRPE

Procurada pela equipe, a UFRPE enviou uma nota afirmando que:

• Recebeu na quarta-feira (8) a informação sobre a greve dos residentes do Hospital Veterinário;

• A administração da universidade reconhece e apoia as discussões do movimento grevista dos estudantes, que fazem parte do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde, ligado ao Ministério da Educação (MEC);

• As obras do Setor de Imagem serão retomadas "em breve" e está finalizando os trâmites legais com a empresa responsável para que o serviço seja concluído;

• A falta de insumos básicos é "pontual" e existe um processo de licitação em aberto para a aquisição de mais de 240 itens;

• Um processo licitatório "desta complexidade" demanda fornecedores especializados, o que pode, "forma eventual", causar algum tipo de atraso;

• Realizou a compra de uma autoclave moderna, que é utilizada para esterilizar materiais, e fez recentemente a manutenção dos microscópios;

• Está empenhada em fornecer aos trabalhadores e usuários "a melhor estrutura possível dentro da atual realidade orçamentária vivida pela instituição".

Por Artur Ferraz

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1 Comentários

  1. É um absurdo ! É um hospital de referência, maravilhoso, hospital escola que não deveria estar passando por nada disso. Um descanso com o curso, com a população e menos um ponto de apoio pra atendimento de emergência.

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