Frequentadores da famosa Bodega do Seu Vital, no bairro do Poço da Panela, Zona Norte do Recife, amanheceram tristes com a morte de Vital José de Barros, proprietário do local.
Ele estava internado, desde o último dia 24 de abril, no Hospital HapVida, da Ilha do Leite, Região Central da cidade, com problemas respiratórios e faleceu na noite desta quarta-feira, 30 de abril, vítima de uma parada cardíaca.
Seu Vital completaria 85 anos neste dia 1º de maio.
Trajetória
Vital José de Barros, nasceu em 1940 na cidade de Bezerros, no Agreste de Pernambuco, e chegou ao Poço da Panela em 1964. Foi um sujeito caladão, que, à primeira vista, pode parecia bronco e carrancudo.
Apesar de ser poucas palavras, geralmente certeiras, sem muitos arrodeios, foi capaz de fazer amigos e aglutinar pessoas de todas as classes sociais. Tanto que sua bodega se transformou em uma espécie de centro político, social e cultural do bairro.
Antes de abrir a Venda, ele trabalhava na fábrica da Pilar e morava numa casinha de aluguel. Ele tinha um irmão que morava no Poço e lhe falou da casinha que estava disponível aqui para vender, bem perto da dele. “Fui olhar a casa e já deixei apalavrada, fui na Pilar para me botarem pra fora e eu receber a rescisão para comprar a casa, mas eles não queriam me demitir”.
Depois de uma negociação com o gerente da fábrica, Vital conseguiu a rescisão e comprou a casa no Poço. Foi assim que ele foi parar em seu endereço no bairro. Dali foi vender doce numa bicicleta no meio do mundo para arrumar dinheiro, depois consegui um emprego na Fratelli Vita e a esposa colocou um ponto pra vender umas coisinhas, contou, em uma entrevista ao portal Marco Zero. Algum tempo depois, observando o sucesso da esposa nas vendas, Vital resolveu sair da fábrica de refrigerantes e trabalhar com ela no comércio.
A Bodega
Incrustada em frente à igreja de Nossa Senhora da Saúde, numa das extremidades da estrada Real do Poço da Panela, zona norte do Recife, em um casarão histórico como um oásis de outros tempos, fica localizada o ponto comercial conhecido na cidade apenas como “a venda de seu Vital”. Aviso aos não-iniciados no pernambuquês: uma venda é uma bodega, ou seja, um pequeno comércio de secos e molhados.
A bodega, uma mercearia que mantêm a arquitetura, a decoração e o atendimento dos pequenos estabelecimentos do início do século XX, existe há 57 anos, quando Vital José de Barros comprou o ponto comercial e ficou pagando aluguel dos fundos do imóvel, onde passou a morar com a esposa Severina, com quem foi casado por 64 anos e teve 06 filhos.
Lá, Seu Vital sempre prezou pela lentidão e por um estilo de vida sem wifi, sem tela de televisão pendurada na parede, quase que transgressor nos tempos atuais. O QR Code pendurado num cartaz perto do balcão para pagamentos em pix é o da conta de sua filha, mas ele mesmo não tem pix. Fazendo as contas de cabeça, controla as finanças da venda com mãos de ferro, sempre atento aos clientes e ao que está sendo consumido.
Não usava zap porque preferia ligar para as pessoas ou conversar olhando nos olhos. A quem sugeria uma reforma ou ampliação para “modernizar” a venda, seu Vital negava veemente e respondia que está satisfeito do que jeito que está.
Despedida
O velório está marcado para às 13h desta quinta, no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife. O enterro será realizado às 15h.
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