Morreu nesta quinta-feira (1), aos 84 anos, a cantora Nana Caymmi, uma das vozes mais emblemáticas da música brasileira. A informação foi confirmada por uma fonte próxima.
Nana havia passado seu aniversário de 84 anos, nesta terça-feira (29), em estado delicado de saúde. A cantora, que está internada há nove meses, sofreu uma "overdose de opioides". A causa da morte ainda não foi informada.
Nana deu entrada na Clínica São José, em Botafogo, Zona Sul do Rio, em agosto do ano passado, diante de um quadro de arritmia cardíaca. Ela passou por cateterismo e traqueostomia. Nesta terça, Nana passou por reposição de glicose e teve medicação ajustada pelos médicos.
Trajetória
Nascida Dinahir Tostes Caymmi, em 29 de abril de 1941, no Rio de Janeiro, Nana foi a primogênita do casal formando pelo cantor e compositor baiano Dorival Caymmi e pela cantora Stella Maris. Quando ela nasceu, o pai já era conhecido no rádio, por gravações como a que Carmen Miranda fizera de “O que é que a baiana tem?”. Na escadinha, foi seguida por Dori em 1943 e Danilo em 1948 — todos os irmãos acabariam virando músicos também.
Nana Caymmi adentrou os anos 1970 cantando com talentos emergentes da MPB, como Marcos Valle, e fazendo shows pelo Brasil, Uruguai e Argentina. Em 1973, gravou pelo selo argentino Trova, o seu segundo LP, “Nana Caymmi”, com várias composições do pai, “O amor é chama” (dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle), “Atrás da porta” (Chico Buarque e Francis Hime), “Pra você” (Silvio César) e “Ahié” (Paulo César Pinheiro, João Donato e Flora Purim).
O álbum definitivo
Em 1975, a filha de Dorival Caymmi lançou o LP que a projetaria de fato no cenário da MPB: “Nana Caymmi”, no qual mergulhou de cabeça no repertório do Clube da Esquina, com “Ponta de areia” (de Milton Nascimento e Fernando Brant, com participações do próprio Milton e de Tom Jobim) e “Beijo partido” (do guitarrista Toninho Horta, que também tocou na faixa, incluída na trilha da novela “Pecado capital”), além de recriar de forma definitiva uma das canções do pai: “Só louco”.
Nos anos 1970, Nana cantou, com sucesso, o fino da MPB — Milton, Toninho, João Donato, Ivan Lins, Sueli Costa, João Bosco, Gonzaguinha e Claudio Nucci (do grupo Boca Livre, com quem foi casada entre 1979 e 1984). E manteve importantes parcerias com pianistas: caso de Donato (com quem viveu um romance), de Cesar Camargo Mariano (ex-marido e maestro de Elis Regina, com quem ela gravou aquele que dizia ser o disco de sua vida, “Voz e suor”, de 1983), Wagner Tiso (do álbum “Só louco”, de 1989) e Cristovão Bastos (que também lhe deu um de seus maiores sucessos, “Resposta ao tempo”, parceria com Aldir Blanc, abertura da minissérie “Hilda Furacão”, em 1998).
Boleros nos anos 1990
Em 1991, depois de meses cuidando do filho, que sofrera um grave acidente de moto, Nana Caymmi voltou ao cenário, participando, ao lado do irmão Danilo, de espetáculo realizado no Rio Show Festival (RJ), que reuniu o pai Dorival e Tom Jobim. Ela ainda cantou, com Dorival e Danilo, no Festival Internacional de Jazz de Montreux. O show foi gravado ao vivo e gerou o disco “Família Caymmi em Montreux”.
Nos anos 1990, Nana Caymmi lançou um CD só de boleros, “Bolero” (de 1993, que ela gravou “morrendo de vergonha”, na onde de cantores jovens, como Luis Miguel, e que foi um inesperado sucesso de vendas, com quase 100 mil cópias) e “A noite do meu bem – as canções de Dolores Duran”(1994). Em 1999, Nana foi contemplada com o primeiro disco de ouro de sua carreira, pelas 100 mil cópias vendidas do CD “Resposta ao tempo”.
— No dia em que eu, carioca do Grajaú, vender um milhão de discos, vão vender mais Drummond e Vinicius. Vai ter tumulto em livraria! — ameaçava ela, em 1998, em entrevista ao “Jornal do Brasil”.
Morte dos pais
Em agosto de 2008, com o falecimento dos pais, Dorival e Stella Maria, num curto intervalo de tempo, Nana chegou a cogitar a possibilidade de deixar a carreira artística, mas no ano seguinte voltou a ser falada por causa do dueto com Erasmo Carlos em “Não se esqueça de mim”, executado com sucesso na novela “Caminho da Índias”. Em 2010, o diretor franco-suíço Georges Gachot lançou um documentário sobre a cantora, “Rio Sonata”.
Distante dos palcos desde 2016, depois de passar por uma cirurgia de remoção de um tumor cancerígeno na parte externa do estômago, a cantora, contudo, não deixou de gravar discos, como “Nana Caymmi canta Tito Madi” (que em 2019 foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira) e “Nana, Tom, Vinícius” (indicado em 2021 ao Grammy Latino de Álbum do Ano).
Despedida
O corpo de Nana Caymmi será velado nesta sexta-feira (2), a partir das 8h30, no Theatro Municipal, no Centro do Rio de Janeiro. O enterro será às 14h no Cemitério São João Batista, na Zona Sul da cidade.
Com informações de O Globo
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