JOSÉ FERREIRA: A DITADURA DO TER

Infelizmente ou felizmente, dependendo do ponto de vista, sempre tivemos os que “mandam” ou ”impõem” e aqueles que “obedecem” ou se “submetem”.

Ouvimos muito que o SER é mais importante do que o TER. Na prática, quem “TEM,” possui o poder de impor, e quem “É”, possui a força do convencimento. Como, mesmo não sendo o melhor, é mais fácil impor do que convencer, o “TER” vem ganhando cada vez mais espaço.

Com as novas tecnologias dos meios de comunicação, o poder do TER vem sendo muito mais difundido e ampliado. Em menos de cinquenta anos, enormes mudanças aconteceram. As notícias hoje são transmitidas em tempo real e acompanhadas de imagens que nos dão as dimensões dos fatos. A repetição das notícias, acompanhadas de cenas reais, nos alertam e nos despertam para tomarmos posição e fazermos algo ou nos anestesiam a ponto de não mais nos incomodarmos, nos envergonharmos.

A realidade sobre a enorme quantidade de moradores de rua é um tremendo tapa em nossa cara que continuamos indiferentes.

“Isso é escolha deles, eles possuem livre arbítrio”, dizemos nós. Será que realmente é escolha deles ou foram conduzidos a isso como a última ou única alternativa?

Há no máximo trinta anos podíamos circular pelas ruas de nossas cidades a qualquer hora do dia ou da noite. Hoje somos quase prisioneiros em nossas residências.

O desejo de “TER”, que é próprio de nossa natureza, vem despertando em um número cada vez maior de pessoas, os demônios que também convivem conosco. E quando o desejo de “TER” se torna nosso único objetivo, perdemos a noção da importância do outro, abdicamos dos valores, a ética é substituída por nossa vontade e pelos conchavos, nos importando apenas TER sempre mais.

E o trecho da oração universal onde pedimos: “não nos deixeis cair em tentação”, perde a negação permitindo assim que em todos os segmentos da sociedade vá sendo implantada a ditadura do “TER”.

Estamos em um momento muito complicado, a pandemia nos trouxe situações muito mais delicadas do que as que já vivenciávamos. O aumento de pessoas sem o necessário para sua manutenção aumentou muito. O governo deu um paliativo com o auxílio emergencial. Sabemos que não é isso o que as pessoas desejam, todos queremos prover o nosso sustento com o nosso trabalho. 

Mas o que estamos ouvindo são vozes defendendo a permanência desse auxílio. Até concordo nesse momento e diante da situação. Não concordo é a fonte de onde se tirar esse dinheiro. Pergunto: por que os que mais falam não oferecem a alternativa de acabar com todas as mordomias dos poderes, deixando apenas seus polpudos salários e revertendo esse montante para financiar o auxílio emergencial? Por que a população tem que ser sempre sacrificada em favor dessa casta, com algumas exceções, que tão pouco produz para a nossa Nação? Reduzam pelo menos três deputados federais de cada estado e um total de dez senadores, sendo um de cada estado com as menores populações. Aliviaria muito...

Ouvi um senador que defende a implantação do décimo quarto salário para os aposentados e pensionistas justificar essa medida por ter no Brasil 64% dos municípios dependendo desses recursos. Pergunto: quais as intenções dos nossos ilustres representantes quando criaram tantos municípios sabendo que os mesmos não tinham condições de se manterem? Será que foi pensando no bem dessas populações ou no aumento de parasitas vivendo à custa do dinheiro público?

Será que ainda nos resta esperança de ouvi-lo dizer: “Pai perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem”.

José Ferreira da Silva Filho
Professor aposentado.
Ex-Diretor do Colégio Marista do Recife

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